A ilusão dos probióticos na cosmética
De certeza que já ouviste falar em probióticos. E mesmo não sabendo o que são, tens a ideia de que os seus efeitos são benéficos, certo?
Inicialmente os microrganismos que suscitavam o interesse da comunidade científica eram os que provocavam doenças mas este paradigma tem-se alterado.
Agora o foco são os microrganismos (bactérias, vírus e fungos) que se constituem a nossa flora habitual também designados como Microbiota.

A microbiota de cada um é única, tal como as nossas impressões digitais. Além de que também varia consoante a região do corpo em que nos focamos.
A colonização do nosso organismo pelos microrganismos começa logo no nascimento mas a sua composição vai variando consoante fatores extrínsecos e intrínsecos.
Como fatores extrínsecos apontam-se: o estilo de vida, a utilização de antibióticos, a utilização de cosméticos, a rotina de higiene, a localização geográfica, o clima e a sazonalidade. Como fatores intrínsecos apontam-se: a etnia, o género, a idade, a região do corpo e a variabilidade inter e intra-pessoal.
Produtos com probióticos
Antes de mais, o que são?
São “microorganismos vivos que têm uma influência positiva no organismo hospedeiro devido
à sua capacidade de modular a resposta imune e competir com bactérias patogénicas.”
Para considerarmos que estamos efetivamente na presença de um produto com probióticos, temos de verificar 3 características no produto:
- A caraterização da estirpe utilizada;
- Uma quantidade tal que permita os benefícios mencionados à data de utilização;
- Evidência científica do método de entrega, dosagem e duração do uso se o recipiente pretendido for humano.
Ao pegares num cosmético com a alegação de probiótico de certeza que te apercebes que algum destes pontos falha (se não os 3 em simultâneo).
Mas vamos falar em termos concretos! Porque é que, de facto, estes nunca poderiam estar na composição de um produto cosmético?
Legislação
Por questões de segurança, a legislação define um limite de contaminação microbiológica nos cosméticos! Este deve ser abaixo de 500 CFU’s (unidades formadoras de colónias) para produtos oculares e abaixo de 100 CFU’s para os restantes produtos. Traduzindo por miúdos: existe um limite bastante reduzido de microrganismos vivos que um cosmético pode ter, uma vez que não são completamente estéreis mas sim, assépticos.
Portanto nunca poderiamos ter cremes com uma quantidade efetiva de microrganismos vivos no seu interior! Como manteríamos as condições de segurança? Quem garantia que seriam os mesmos microrganismos que lá encontrarímos quando fossemos comprar ou até utilizar aquele cosmético?

Então o que está presente nos cosméticos…
São lisados, fermentos ou extratos! Eles são microbiologicamente seguros e podem constituir uma fonte de prebióticos (alimento) para a nossa microbiota além de compostos interessantes para as células da pele.
Também podem ser posbióticos que são substâncias produzidas por microrganismos que se podem encontrar de forma isolada ou até misturadas com partes dos mesmos.
Serão as alegações duvidosas?
A maioria das alegações destes cosméticos refere a normalização do microbioma da pele com consequente reforço da barreira cutânea e melhoria da aparência da pele.
No entanto, vimos lá atrás que, o nosso microbioma é único! Se assim é, não existe uma fórmula universal de microbioma que dê para todos os indivíduos.
Adicionalmente, as várias camadas da pele também o seu microbioma característico, então, poderá um cosmético atuar a estes níveis?? E se não, ajuda mesmo na normalização no microbioma?
A resposta não é assim tão linear!
Já diversos estudos comprovaram a evidência de determinadas estirpes probióticas na saúde da pele.
Sabe-se inclusivé que a disbiose (alteração do nosso microbioma) está associada a determinadas doenças cutâneas como a dermatite atópica/seborreica, rosácea, alopécia areata e acne.
Mas certamente terá de haver na cosmética uma resposta mais fundamentada e transparente do que aquela que existe atualmente.
Para mim continuam a ser um must have e cada vez existem mais produtos virados para esta problemática!
 
			 
			